SUA HISTÓRIA, SUAS TRADIÇÕES:
A arte da cartomancia, ou leitura da sorte através das cartas, é antiquíssima: vem dos tempos em que a religião e a ciência se confundiam nas civilizações do Oriente. O seu instrumento clássico é o Tarô, um livro das revelações que se compõe de 78 lâminas soltas, sendo cada uma delas uma caprichosa obra de arte. Os modernos jogos de cartas, mais simples e sem caráter simbólico, se originam desse milenar instrumento mágico. O baralho Tarô foi o meio mais eficaz que os antigos encontraram para perpetuar, através da motivação psicológica do jogo da vida, a sua filosofia imbuída de crenças mágicas. Isso porque, segundo Papus, um sacerdote católico que estabeleceu a chave completa do Tarô, os sacerdotes sabiam muito bem que o vicio é mais poderoso que a virtude. E, assim, a sabedoria cabalística se perpetuou pelas gerações afora através do jogo.
Desde o século V antes de Cristo o Taro existe.
O Tarô é talvez o mais antigo sistema Adivinhatório de que se tem noticia. Responde, como todos os demais instrumentos de magia, à compulsão de autoconhecimento, que leva as pessoas aos divãs dos psicanalistas, dos magos, quando não aos dois lugares.
A média de atendimento é de 10 clientes por dia. Em cada grupo de 100 pessoas há um adivinho, garantem os pesquisadores de assuntos ocultistas. Garante Cora, la Manuche.
Os cartomantes, homens e mulheres, se concentram nas cidades, em particular nas metrópoles. É onde há mais gente perturbada pela insegurança, amedrontada pela solidão, ansiosa de apoio psíquico.
Outros carentes, e ainda os curiosos.
A Editora pensamento possui um Tarô Adivinhatório completo, com 78 lâminas. Os outros baralhos feitos no Brasil são de poucas cartas, incompletos, pois um Tarô tem 78 lâminas secretas. Cada uma delas tem um significado, um arcano, uma força de magia antiga.
Deitar as cartas não chega a ser, contudo, uma técnica difícil. Com paciência é possível dominar as principais combinações e entender a linguagem cabalística do baralho. As cartas não mentem – dizem os iniciados – porque entre elas, o consulente e o cartomante se estabelece um poderoso campo magnético. Ainda que o consulente pretenda blefar, as suas energias profundas e a energia que emana das cartas favorecem um diálogo cabalístico que vai determinar a posição das lâminas durante o jogo completo.
O batalho moderno nasceu dos chamados arcanos menores. Cada naipe compreende 14 cartas: o senhor, a senhora, o soldado, o escravo e números de 1 a 10. Os arcanos menores indicam acontecimentos domésticos; os maiores anunciam grandes eventos sociais.
Há cartomantes que trabalham apenas com as 56 cartas dos arcanos menores. Eles falam de desejos, de injustiças, de ingratidão, de negócios, de sofrimentos, de estados de saúde, de alegrias, de amor, de casamentos, de divórcios, de aflições, de gozos, de dinheiro, de traição, de rivalidades, de empreendimentos, de morte, de vingança, de viagens, de chegadas, de partidas, de desgraças, fortunas, maldição e doença -enfim de tudo o que afeta o ser humano.
O cartomante não é um feiticeiro. Nós somos intérpretes da linguagem das cartas; elas é que se dispõem segundo o oráculo, uma terceira entidade, uma forma de energia que emana das lâminas.
A explicação talvez seja apelativa mas, no entanto, é necessário um ritual antes de deitar as cartas. Um comportamento semelhante ao que se teria diante do oráculo da ilha de Delfos. Milhares de pessoas vivem do Tarô. Não somos ciganos, mas temos conhecimento dos métodos ciganos. Minha avó, por exemplo, Nona Olímpia, jogava Tarô e aos sete anos se iniciou nas lâminas secretas.
Hoje atendo a milhares de pessoas e para cada uma há uma revelação do Taro cabalístico.
Há muitas maneiras de se jogar o Tarô. Além do método italiano, do boêmio, do francês e do alemão, ainda existem os vários métodos criados pelos cartomantes.
Um deles manda dispor as cartas em cruz, com uma no meio, todas voltadas para baixo. O primeiro passo é embaralhar as cartas sobre a mesa, em circulo, na direção contrária à dos ponteiros do relógio. Depois de bem embaralhadas, separar as cartas em três montes, com a mão esquerda. Juntar tudo e entregar ao cartomante. Repetir a operação. Arrumadas as cartas, começa a leitura.
A cada assunto pode corresponder um jogo inteiro. Quem quer tratar de vários temas: negócios, amor, saúde, deitará as castas para cada item, em separado.
Ou o próprio cartomante seguirá uma informação importante, colhida na primeira mesa, botando as cartas várias vezes até que o oráculo complete a predição. Em princípio, a lâmina da esquerda corresponde ao que o consulente tem a seu favor. A da direita, ao que tem contra si. A terceira, em cima, terá a interpretação ligada ao sentido das duas anteriores.
A quarta, embaixo, simboliza as forças geradoras do consulente, que devem ser bem aproveitadas. A do meio revela a quintessência, o traço psicológico mais profundo. Se, por exemplo, a carta da esquerda é o arcano força e a da direita é a roda do destino, estamos diante de alguém dotado de muito ímpeto para a vitória, mas em luta constante com as forças do destino, que lhe são adversas.
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