Perguntas para Tâmara Valentina

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P- Você sentiu que era o orixá lhe dizendo para ser sacerdotisa?

R- Sim.

 

P- E como foi essa sensação?

R- Foi um momento dolorido no começo, mas depois veio uma satisfação de saber que era uma coisa que sempre amei e que muitos dizem não existir. Vi que realmente existia! Era um poder que podia me deixar doente e também de me curar.

 

P- Fale sobre a Umbanda cultuada no seu terreiro?

R- A Umbanda daqui é regido pela Iei do orixá, com amor, disciplina e tentando manter o máximo as orientações que eu tive. São três valores: que uma pessoa jamais possa esquecer o amor ao orixá; o respeito ao orixá; e a obediência ao orixá. Eu sigo essas três normas até hoje a soberania do orixá. Na minha casa essa Iei é regra tanto para mim como meus fiIhos-de-santo, clientes e assistentes.

 

P- Como você cultua o orixá?

R- Orixá é aprendizado. Lógico que tem de haver uma sabedoria, porque se não formos sábios não poderemos entender as mensagens do orixá. Tudo tem que ter sabedoria. Não se pode dar o primeiro passo sem ouvir o orixá primeiro. Temos que buscar no orixá sabedoria para depois caminhar em direção à vontade deles. Tudo é aprendido no dia-a-dia. Um orixá nunca é igual ao outro, como uma cabeça nunca é igual à outra. Então é um mundo de aprendizado que a gente jamais pode dizer: eu sei tudo! Nós estaremos sempre buscando a sabedoria para aprender cada dia mais. A cada dia temos de agradar o orixá. Essa é a minha concepção dentro da minha Umbanda.

 

P – Quantas pessoas participam das cerimônias?

R- Somos em 15 pessoas no total. São filhos e junto com eles tem a makota, tem o ogã da casa e eu. Vêm alguns adeptos às vezes. Varia muito. Mas contando os que estão sempre presentes é esse número mesmo.

 

P- Você ja fez trabalho de cura?

R- Já, em várias pessoas. Vou citar uma que me tocou muito. Foi a que me marcou mais e me mostrou que o orixá tem poder. Não é a gente que tem poder, é o orixá. Foi o caso de uma amiga, fiIha-de-santo que o filho era jogador de futebol. Ele sofreu um acidente de moto e ficou entre a vida e a morte no hospital. Aí essa minha filha-de-santo levou essa amiga à minha roça. Quando olhei para ela, vi seu desespero e tentei passar tranquilidade para a moça. Vi que realmente o menino estava entre a vida e a morte. O médico falou que a única coisa era esperar o menino morrer, porque não tinha mais jeito de contornar a situação. Ele estava praticamente com morte cerebral, um coágulo no cérebro e não tinha mais jeito. Ela frequentava um barracão, um terreiro de umbanda, e lá o zelador falou que não tinha mais nada a fazer pelo menino. Então, pedi a OmoIu para me dar um caminho e ver a profundidade do problema. Perguntei ao orixá se ele tinha como me ajudar a salvar aquela vida, pois era o senhor que traz a vida e a morte. Ele então falou que sim e me orientou. Eu fiz as coisas para a moça e em menos de 15 dias o menino saiu da UTI. Hoje ele está bem vivo e jogando sem sequelas nenhuma.

 

P – Qual a sensação de tomar para si essa responsabilidade arriscada?

R – Eu só senti depois do caso passado. Na hora fiquei preocupada com o meu preparo para aquela energia toda, canalizar tudo para salvar uma vida. Uma vida é uma vida. Depois que tudo passou me senti uma pessoa especial para o orixá. Posso não ser alguém especial para as pessoas aqui na Terra, mas para o orixá eu me senti uma pessoa especial. Ele me ouviu, me atendeu e ajudou naquele momento.

 

P- Já vieram pessoas importantes aqui no seu terreiro?

R- Nomes importantes não. Eu acho que todos que vêm ao terreiro são pessoas importantes.

 

P – Como você imagina o futuro da Umbanda?

R- Eu só imagino que as origens voltem novamente. A minha vontade é que a Umbanda volte a ser uma religião que a gente se ajude um ao outro, se respeite um ao outro e preste caridade a quem precisa. Que volte a ter amor, humildade, companheirismo a compreensão. Eu espero que o orixá volte a surgir de suas raízes novamente, porque hoje em dia está muito deturpado. A Umbanda em certos aspectos não é mais uma religião, é um meio de comércio e de troca, não uma troca de energia, mas uma troca de favores. Eu gostaria que a Umbanda voltasse a ser raiz, entendeu? Axé significa força. A gente vê que a força da Umbanda está enfraquecendo a cada dia devido aos próprios irmãos que não sabem como se unir. Não sabem prestar ajuda uns aos outros. O que se vê é que cada um quer ser melhor do que o outro e com isso quem perde é a Umbanda.

 

P- Entre a Umbanda de cultura e o de sabedoria, qual você escolhe?

R- Eu escolho a Umbanda de sabedoria, porque é por meio da sabedoria que existe cultura. Temos novos caminhos abertos, novas idéias e estamos tentando resgatar o passado. Por meios da sabedoria a gente tem tudo.

P- O que deve ser melhorado na Umbanda. O que você faria?

R- O que eu faço é mostrar o valor do orixá para as pessoas e o respeito que se deve ter por ele. Se eu pudesse ter esse poder de passar um pouco da sabedoria do orixá, acho que melhoraria em 50% ou mais.

 

P- Esse valor vem do aprendizado ou é trazido de longa data por meio de ensinamentos, aconselhamentos? Como e esse valor, essa importância?

R- Para mim, primeiramente, é o respeito, o amor, porque a sabedoria a gente não conquista de uma hora para a outra, e sim após um longo caminho de alegrias, dificuldades, tristezas e conforto. As pessoas têm que dar o tempo certo para as coisas acontecerem e poder aprender a caminhar pelo dia-a-dia. A gente nunca está caminhando, está sempre buscando. Acho que as pessoas devem buscar mais, devem buscar o orixá, devem buscar a si mesmo para poder achar o que querem.

 

P- A religiosidade esta deturpada ou falta aprendizado?

R- Ela ainda consiste no aprendizado. A gente tem que pensar sempre em ser otimista, apesar da maioria das pessoas querer a deturpar e a minoria querer resgatar. Eu sou otimista. Acredito que daremos a volta por cima.

 

P- Qual seu conselho para quem quer entrar na religião ou ja esta nela?

R- Aconselho as pessoas a observarem mais, a prestar mais atenção e não cobrar dos outros sem dar de si primeiro, porque temos que dar para poder receber. Não estou falando de dinheiro e sim de amor, carinho, compreensão e atitudes.  A pessoa que quer entrar no mundo espiritual deve procurar o lugar certo com qual se identifique pelo sentimento e não pela aparência. Não se julga o livro pela capa.

 

P- Como se inicia uma pessoa que quer frequentar o terreiro?

R- Recebemos todos com o coração aberto e mente aberta para ensinar e passar a eles o amor, o respeito, o carinho pelo orixá. Tem uma coisa que frisamos sempre: por mais que as pessoas não tenham valores, quando estão no mundo espiritual o valor principal é o orixá. Não vemos cor, raça, condições financeiras. Vemos o orixá e a pessoa. Então fazemos o possível para aquela pessoa se levante na vida e saiba que está dentro de uma religião verdadeira. Da religião ela vai tirar boas coisas para aprender na vida.

 

P – Indicação de banhos, chás ou receitas para abertura de caminhos?

R- Tem um banho que é de caminho. É de Ogum. Um banho que se faz toda terça-feira de manhã antes de raiar o sol – às quatro horas da manhã precisamente. Acorde de manhã cedinho. Macere uma folha de abre-caminho, com elevante, umas folhas de manga. Tome o banho de corpo inteiro. Depois passe quatro acaçás no corpo e entregue na estrada pedindo a Ogum aberturas de caminho, prosperidade e saúde.

 

P – Como se prepara esse banho?

R- Pegue as ervas e ponha em um balde ou uma bacia. Macere essas ervas frescas e tome banho do pescoço para baixo. Passando a erva o banho do pescoço para baixo. Põe uma roupinha clarinha, vá até uma rua de subida, passe esses quatro acaçás e peça a Ogum que abra os quatro caminhos do mundo para você e por onde você passar. Peça que esses caminhos estejam abertos para você.

 

P- Como é feito esse acaçá?

R- É feito com farinha de acaçá (farinha do milho branco), água e um pouquinho de mel. Você põe um pouco de água na panela, um pouco de mel e a farinha de acaçá. Vai mexendo até virar um mingau consistente. Deixa esfriar. Depois enrole os acaçãs bem bonitinhos e guarde para passar no corpo. Se a pessoa estiver desempregada e não quer só abrir os caminhos, pois está precisando de uma força financeira, ela deve colocar uma moedinha em cada acaçazinho arrumado em cima de um oberozinho (alguidar). Depois de arrumar esses quatro acaçás, cada um indicando para uma ponteira, coloque uma moedinha em cada um.

P – Indicação também um chá?

R- Tem um bom para problemas de saúde. É um chá para mulheres que têm problema de baixo ventre. É um chá de parietária com oriri e aroeira. Cozinhe essas ervas e tome periodicamente. É bom para inflamação, problemas de rim ou qualquer infecção no baixo ventre.

 

P – Uma defumação para trazer bons fluidos para dentro de casa?

R- Você pode usar alecrim, erva-doce, cravo e canela, açúcar mascavo e bastante pedra de mirra. Esse defumador é bom passar às quintas-feiras pedindo bastante prosperidade, caminhos abertos, pois é o dia que o povo da mata come. Peça a Oxóssi e Oxumaré que a renovação traga prosperidade para sua casa. Renovação!

 

P- A intolerância religiosa e como encaro isso.

R- Olha, é muito difícil. A cada dia encontramos mais pessoas intolerantes. Pessoas que não respeitam a religião dos  outros. Pessoas que só querem impor sua vontade. Mas temos de ter jogo de cintura se não nossa religião vai ser mais deturpada ainda. Eu mantenho minha cabeça erguida, minhas tradições e minha educação. Como se diz o velho ditado: “Antes de cobrar educação dos outros, mostre a sua!”. Eu encaro a intolerância com a minha tolerância – da melhor maneira possível.

 

P – O que deve ser feito para integrar o Estado e as Religiões-afro?

R- Precisamos de um órgão responsável por isto tudo. Mas tem que ser competente, pois há várias federações e nenhuma delas ampara a gente nos momentos críticos. Quando a gente se joga na rede, a rede está furada! Deve existir uma instituição séria, com pessoas competentes e que querem mudar mesmo essa situação. Nossa religião é a menos respeitada no Brasil e no mundo inteiro. Quero que a igualdade venha logo, pois assim teremos o direito de fazer nossos trabalhos onde bem entender. As outras religiões têm este livre-arbítrio e nós não. Vivemos como bicho acuado, dentro de nossos terreiros, sem poder exercer nossa espiritualidade onde queremos – cachoeira, encruzilhada, estrada, campo aberto. Quero realmente que fundem uma instituição que plante o respeito e a igualdade para todos nós.

 

P- Você ja foi agredida?

R -Não, nunca passei por esse mau momento. Não fui agredida fisicamente, mas passei por agressão verbal. Quando fazia um ebó na makota da casa, fui abordada por uma pessoa que arrumou maior confusão. Ela queria que eu tirasse o ebó que tinha começando a fazer me agredindo com palavras e me ameaçando. Para a coisa não ficar pior do que estava, use da minha tolerância. Eu estava cuidando de uma cabeça e para mim o mais importante é a cabeça da pessoa, é o orixá, e não seria naquele momento que eu iria brigar pelos meus direitos.

 

P- Como você sentiu sendo insultada?

R -Me senti incapaz naquele momento, pois queria preservar a cabeça da makota da minha casa. Eu não pensei em mim, pensei nela. Se eu pensasse em mim, talvez agisse de outra forma.

 

P – Fale um pouco sobre a Umbada.

R- É uma raiz que foi plantada e buscamos preservar nossa raiz. Cada casa, cada um tem seu modo de ser e seu modo de agir. É uma raiz de profundas igualdades e profundo respeito pelo orixá. É uma raiz que tem poucas casas. É um axé muito fechado. Pra mim representa a vida, minha raiz, meu alicerce e o ar que respiro.

 

P – Qual mensagem dou aos leitores?

R- Que se amem mais uns aos outros.

 

P – O que fazer para a Umbada chegar ao alcance de todos?

R- Acho que nossa religião chegou para somar, para contribuir, mas a salvação de cada um está em cada um. A gente só pode ajudar aqueles que querem ser ajudados. Nossa religião veio para ajudar.

 

P- Qual e a essência para a Umbanda se fortalecer e ganhar mais credibilidade junto aos praticantes?

R- Acho que cada um tem que caminhar com o outro – a sabedoria do orixá junto com a sabedoria dos homens, pois estão aqui neste mundo para fazer as coisas acontecerem. A espiritualidade é o caminho. Em nosso mundo de hoje cada um tem que dar a mão aos outros para poderem caminhar juntos. Por isso a sabedoria do orixá e a sabedoria humana têm de caminhar juntas, de mãos dadas, para poderem chegara um mesmo objetivo.

 

P – Como são as cerimônias na casa?

R- É uma satisfação e uma alegria. Quando tem festa no terreiro eu durmo e acordo eufórica. Faço questão de estar presente em todos os detalhes, arrumar salão, ver comida. Também tomo conta dos filhos com carinho e responsabilidade. Não acho que seja uma carga pesada tratar com bastante carinho, eu acho que é desenvoltura, pois sinto que o orixá me escolheu para aquilo e estou feIiz. Quando vejo um orixá vir feliz à minha casa e sair feliz, alegre, essa é a minha alegria!

 

P- Como se prepara uma cerimônia de Umbanda?

R- Dependendo do orixá e das coisas, no outro dia tem a arrumação da casa e a preparação dos orixás, tudo direitinho. Gostamos de seguir tudo à risca. É a comida dos orixás. Com esses bastidores prontos uma noite antes, no dia da festa é só arrumar o salão. Eu mesmo seleciono com o ogã as cantigas que vão ser tocadas, a hora das paradas, a hora do intervalo para os orixás entrarem. Isso tudo é programado minuciosamente para as coisas saírem bonitas. Quem vem sempre gosta da festa.

 

P – Qual a sensação de ver o orixá manifestado nos seus filhos?

R- É uma grande honra, uma grande felicidade. Eu digo que orixá também se recupera, porque tenho duas filhas vindas de outro barracão cuja energia do orixá delas já estava quase se esvaindo. Eu consegui com muita luta resgatar a força e a energia desses orixás. Hoje são lindos aqui na casa. Eu me sinto realizada de poder ser um instrumento do orixá.

 

P – Você acha que a Umbanda precisa de integração de sacerdotes?

R- Sim. Quanto mais uma corrente tiver elos, mais forte vai ficar. Acredito que o ser humano não nasceu para viver só, portanto um sacerdote não precisa viver só. Se houver mais união ficaremos mais fortes. Haverá menos discriminação, menos perseguição. Quando falo de estar juntos é em prol de algo positivo e não “juntar” para achincalhar, falar mais. Tem de ser uma união sob uma mesma bandeira, assim seria melhor para todo mundo.

 

P- Quais sao os projetos do terreiro para a comunidade?

R- Há muito tempo veio uma idéia e estamos nos programando para isso. É alem de continuar a prestar serviços à comunidade, abrir uma oficina de costura, pois é uma coisa que domino bem e conheço a fundo. Vamos ativar esse projeto no qual vamos ensinar aos jovens, as meninas, no oficio da costura. Assim terão uma profissão.

 

P- A Casa de Umbanda pode prestar serviço a comunidade?

R- Pode sim. Já prestamos caridade voluntariamente, ajuda psicológica, ajuda espiritual. Essa seria mais uma ajuda prática e manual. Isso resgatará o amor próprio das pessoas, pois verão a possibilidade de aprender e ser valorizadas como seres humanos.

 

P- Considerações finais

R- A única coisa que eu gostaria de falar é para as pessoas conhecerem a fundo uma religião, seja ela qual for. Escolham uma e se entreguem de corpo, alma e de mente. Eu acredito ou que ninguém neste mundo possa viver sem religião. Todos devem buscar uma religião para poder se sentir seguros e amparados tanto neste mundo como no outro e poder seguir o caminho do bem. Hoje em dia as pessoas não dão amor ao outro nem para si mesmas. Então, se a pessoa busca uma religião na qual se sinta bem, ela vai ter tudo de bom. Isso é muito importante.

 

10 comentários em “Perguntas para Tâmara Valentina

  1. A todos que tem duvidas se devem entrar em contacto com a Tamara eu deixo aqui o meu depoimento nao pense 2x ela e muito atenciosa paciente e responde a todos os emails… fiz alguns trabalhos com ela e estou aqui para deixar o meu depoimento porque ela me ajudou a ter o que tanto quero.. um obrigada nao chega por todo o carinho que ela transmite as seus clientes, que alias ela trata como filhos mesmo!!

  2. Gostei muito do seu trabalho, é bem verdadeiro como é dito no seu site. Meu trabalho deu certo e o mais importante, é tudo de confiança. Obrigada, abraços…..

  3. nossa amiga que lindo ouvir vc falar dos teus filhos todos eles recebe os orixas isso deve ser maravilhoso tenho vontade de ir ao um terreiro mas até agora nunca deu certo estou emocionada com seus comentarios são lindos

  4. Muito boa a entrevista gostei de muitas coisas que ela falou que eu nem imaginava que existia ela realmente conhece e sabe o que fala Parabéns
    Obrigado por me ajudar e deixar conhecer seu terreiro. Abraços

  5. Oi Tamara, obrigado por sempre responder meus emails ter me ajudado com tanta rapidez e urgencia. Estou muito feliz com meus resultados!

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